quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Flexibilidade

Por Gilberto (Esp.) / Rita Foelker

A despeito do rigor com que se consideram certas regras para a prática mediúnica, a mediunidade não necessariamente se lhes submete.

Nos trabalhos mediúnicos, sempre será necessária uma certa flexibilidade, não quanto aos princípios espíritas que norteiam as ações, nem quanto à moral de médiuns e Espíritos, mas quanto aos procedimentos arbitrados como os melhores para circunstâncias específicas.

É importante que o médium possa sentir-se confortável em seu raio de ação, que não seja tolhido por pareceres que nada têm de doutrinários e que possa, se sentir tal impulso, levantar-se, gesticular, falar com mais veemência, aproximar-se de um dos presentes, desde que nenhuma destas atitudes denote descontrole sobre si mesmo e predomínio de um Espírito que vem somente tumultuar.

Se mediunidade é expressão de pensamentos, porque não expressá-los (se o médium tiver condições) de forma mais completa, associando-se, à palavra falada, as expressões faciais e gestuais que nos possibilitem compreender melhor o modo de ser da criatura que nos fala e que conta, para ser compreendido, unicamente com os recursos oferecidos pelo médium e a harmonia do ambiente construído pelo grupo?

Muitas vezes, além dos médiuns, os Espíritos se veem prisioneiros de normas rígidas impostas por dirigentes avessos à espontaneidade e ao novo. Revelam, estes irmãos encarnados, a impressão da própria incapacidade para administrar situações que fujam da rotina. Sob a justificativa do zelo pela prática espírita genuína, amarram e amordaçam criaturas que tantas vezes, só desejam expandir seu carinho e sua afetividade.

A comunicação mediúnica e a expressão do Espírito não são somente verbais, não podem ser reduzidas a palavras ditas ou escritas. Somos seres integrais, exteriorizando aquilo que somos em nossos fluidos, emoções, pensamentos, sentimentos e atos.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Como fazer ciência espírita?*

Por Rita Foelker

O Espírito em evolução é a consciência aprendente. O aprendizado promove progresso intelectual que precede o moral.
Os seres mais evoluídos intelectual e moralmente fazem uma ciência mais aperfeiçoada que os mais atrasados, porque refinaram seus instrumentos perceptivos e cognitivos, o que lhes permitiu uma compreensão mais completa e aprofundada dos mecanismos da Natureza e da natureza dos seres. Eles efetivam sua própria ciência, a ciência dos Espíritos, denominação que Paulo Henrique de Figueiredo adotou, sobre a qual conversamos, e que eu também utilizarei.
Quando estes seres mais adiantados trazem seu conhecimento aos humanos encarnados na Terra, eles não estão fazendo ciência por nós, mas sim fornecendo conceitos que podemos utilizar na elaboração da ciência espírita (a ciência dos encarnados que trata das relações entre os mundos visível e invisível), obedecendo ao mesmo princípio da solidariedade que mencionamos no post O papel da solidariedade na ciência, ou “nós” é o plural de nó.
Assim, verificamos dois tipos de solidariedade: a solidariedade horizontal, surgida da colaboração entre seres de uma mesma categoria evolutiva no intuito de aprender e formular as bases da ciência espírita; e a solidariedade vertical, originária de planos superiores visando alavancar o progresso dos seres mais atrasados porém sinceros na sua busca pelo saber e a melhoria individual e social.
O que os Espíritos nos possibilitam, com sua revelação de princípios e leis, são as condições necessárias para que realizemos aquilo que Thomas Kuhn, em sua tese sobre o progresso científico, chama de mudança de gestalt, (i. e., mudanças na visão global do mundo), mudanças que segundo ele nascem da combinação de vários fatores que extrapolam a esfera meramente cognitiva, incluindo crenças e valores.
Ou seja, os vislumbres da ciência dos Espíritos nos permitem enxergar os caminhos da ciência espírita. Os Espíritos nos oferecem uma nova forma de "ver o mundo", ao nos oferecer um ponto de vista e oportunidade de diálogo com eles. Este diálogo progressivo conosco depende do que já caminhamos intelectualmente, pois eles nos ajudam conforme evoluímos na nossa compreensão.
Uma objeção pertinente seria a de que a ciência espírita não passe de mais uma proposta de paradigma concorrente com outras, tidas como equivalentes. Um olhar puramente terreno poderia crer na correção deste pensamento. Contudo, aplicando as mesmas premissas (1-4, que expusemos no post Validade dos relatos mediúnicos) ao problema presente, perceberemos que onde Kuhn não via um caminho para uma verdade única, vemos a tendência evolutiva dos Espíritos que os dirige ao bem e à verdade das leis universais. Vemos nos ensinos dos Espíritos adiantados princípios de uma ciência mais completa e perfeita que aquela que praticamos, uma meta para onde direcionar nossos esforços.
A ciência espírita não compete com outras ciências por ter um objeto de pesquisa novo: as relações com o mundo espiritual. Seu escopo é observar fenômenos, reconhecer médiuns, aperfeiçoar a comunicação interplanos, dialogar e observar a que ordem pertencem os Espíritos comunicantes e comparar os conceitos dos Espíritos superiores com o conhecimento terreno atual.
Além disso, quando abrimos diálogo com os Espíritos, abrimos uma base de conhecimento única que esclarece fatos que Kuhn não pôde abranger. Um conhecimento que transforma as outras ciências naturais, a economia, sociologia, psicologia etc. Então, não há concorrência, há autossuperação de cada ramo científico pela integração dos conhecimentos expressos na ciência espírita.
Onde Kuhn viu a competição entre teorias e paradigmas, numa perspectiva espírita, vemos exercícios de Espíritos pouco adiantados que disputam prestígio e poder pessoal mediante o conhecimento que adquirem ou produzem. Esta é, contudo, uma situação passageira, resultado de sua forma restrita de entender a vida.

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* Este texto foi postado originalmente no blog "Entre a Serpente e a Estrela", em 17/05/2009.