sábado, 18 de dezembro de 2010

Experiências espirituais não são estados patológicos da mente

Por Rita Foelker

As experiências espirituais sempre foram consideradas pela ciência materialista como estados puramente subjetivos sem relevância científica ou, em certos casos, como manifestações patológicas da mente.
O estudo dos estados modificados da consciência, já empreendido por alguns cientistas como Stanislav Grof, contudo, vêm mostrando que estas suposições não são tão sólidas quando pode parecer num primeiro momento. Sobre o assunto, dois livros deste médico e pesquisador são relevantes e foram publicados no Brasil: Psicologia do futuro e Quando o impossível acontece, ambos pela Publicações Lachâtre.
Para maior conhecimento do assunto, sugerimos enfaticamente o estudo do seguinte artigo do psicólogo Adair de Menezes Júnior e do psiquiatra e do professor adjunto da UFJF Alexander Moreira de Almeida, intitulado "O diagnóstico diferencial entre experiências espirituais e transtornos mentais de conteúdo religioso".


Espiritualidade e saúde mental


A revisão da literatura empreendida no texto aponta diferenças importantes entre as experiências espirituais e os transtornos mentais de conteúdo religioso, ocorrências que não se confundem graças ao grande número de critérios apontados em estudos de diversos autores. Entre eles destacam-se, no caso das experiências espirituais: a ausência de sofrimento psicológicos; a ausência de prejuízos sociais e ocupacionais; experiência de curta duração que ocorre de forma episódica; atitude científica perante a realidade da experiência; compatibilidade com um grupo cultural ou religioso; controle da experiência; ausência de comorbidades (correlação com outras doenças); crescimento pessoal provocado pela experiência, não implicando em egocentrismo ou isolacionismo.
É claro que este fato, por si só, não atesta a realidade da vivência espiritual em questão. Contudo, ele já permite estabelecer que:
  • pessoas normais e em pleno funcionamento são capazes de vivenciar experiências espirituais;
  • que estas experiências espirituais são positivas na medida em que contribuem para o crescimento pessoal e para a comunidade em que a pessoa está inserida;
  • que elas são passíveis de compartilhamento e compreensão intersubjetiva;
  • que não são fruto de fanatismo ou misticismo exacerbado, o que se nota pela atitude científica acerca da realidade da experiência.

Do Dr. Alexander Moreira de Almeida, veja também: "Diretrizes metodológicas para investigar estados alterados de consciência e experiências anômalas".
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Imagem: Grávida de uma anaconda, pintura de Pablo Amaringo
Fonte: http://deoxy.org/media/Jeremy_Narby/Intelligence_of_Nature