quinta-feira, 5 de maio de 2011

É impossível barganhar com a lei espiritual*


Onde encontraremos a chave para uma vida melhor?


Por Rita Foelker


Livros sobre o segredo da lei de atração, sobre como obter sucesso, dinheiro e amor na vida por meio da aplicação de “mantras” e exercícios, não faltam nas livrarias.

Eles são baseados numa tese correta quanto ao pressuposto, mas equivocada nas suas conclusões.

O pressuposto é a capacidade do pensamento focado de potencializar-se, gerando uma atmosfera em torno do indivíduo, segundo a sua qualidade e intensidade, criando condições para a realização de certos objetivos. De fato, a ação do pensamento é real, sua força é efetiva, como não deixam dúvida trechos diversos da Codificação Espírita, como este, d’A Gênese (Cap.2), onde lemos: “quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido. Na impossibilidade em que nos achamos de o isolar, parece-nos que ele, o pensamento, faz coro com o fluido, que com este se confunde, como sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo”.

A conclusão de que poderemos materializar no presente todos os nossos desejos, aprendendo a usar a força do pensamento, todavia, é incorreta.

Isso porque o objetivo de cada encarnação é a evolução, evolução pede aprendizado e aprendizado pede condições próprias para sua realização, as quais normalmente se apresentam na forma de desafios.

Desafios assumem inumeráveis configurações. Em geral, é aquela situação que se repete em nossas vidas, que nos irrita e nos “tira do sério”, pois nos sentimos incompetentes e inadequados diante dela. Talvez seja um problema que sempre surge na vida sentimental, ou na família, ou na profissão, enfim, o que quer que identifiquemos como uma grande dificuldade e que não desaparecerá, nem mesmo com altas doses de pensamento positivo e frases autossugestivas. Ele só desaparecerá quando aprendermos a lição necessária, quando superarmos a nossa “deficiência” emocional ou moral e incorporarmos o respectivo aprendizado à nossa forma de ser.

É claro que os bons pensamentos sempre poderão nos ajudar a enfrentar estas situações, mas não terão o efeito milagroso de nos subtrair às vivências indispensáveis ao desenvolvimento espiritual que aqui estamos buscando.

O que viemos fazer na Terra?

Toda encarnação tem um objetivo espiritual relacionado ao progresso intelecto-moral. Este objetivo costuma envolver o autoconhecimento, a melhoria nas atitudes, a reconciliação com seres que participaram do nosso passado. Não se trata da “pena de talião”, de quitar dívidas, como algumas visões simplistas levam a supor. Trata-se, antes, de aproveitar as oportunidades que temos, perante nós mesmos, de aprimorar nossa forma de encarar a vida e nossas reações perante os fatos, de reconhecer a ação das leis divinas e de nos conformarmos a elas. Trata-se de ampliar a visão, abandonando o egoísmo e o orgulho para abraçar a fraternidade e humildade, a fim de que passem a ser nossas diretrizes em cada situação. Esse aprendizado pode levar décadas, muitos de nós talvez já tenhamos atravessado existências inteiras nas quais demos pouquíssimos passos efetivos em sua direção.

O desvio de atenção para as soluções fáceis e exteriores, como as receitas apresentadas nas diversas literaturas que mencionamos acima, não nos ajudarão a encontrar o caminho da automelhoria. Elas transmitem uma ideia falsa de poder, de barganha com a lei espiritual: “Se eu pensar de tal forma, se repetir tais palavras, tantas vezes por dia, o que eu quero acontecerá.”

Ultimamente, essas obras encontraram respaldo em depoimentos de cientistas e filmes, dentre os quais se destaca “Quem somos nós?”, os quais se propõem a explicar “cientificamente” a ação do pensamento sobre a realidade considerada concreta.

Em geral, uma das falhas desses filmes e depoimentos é desconsiderar a lei da reencarnação e da necessidade da evolução espiritual, de que tratamos aqui.

Outra falha é extrapolar o limite das conclusões plausíveis perante os avanços da teoria quântica, afirmando que uma eventual influência do pensamento em escala subatômica possa mudar toda a realidade a partir do que pensamos, proporcionando amor, prosperidade e saúde, bens materiais e sucesso profissional. Nada de científico pode ser confirmado, a esse respeito.

A fonte segura da Codificação Espírita, por outro lado, esclarece que é no desenvolvimento de nossas virtudes, na ampliação do amor e da capacidade de perdoar, que se encontra a chave de uma vida melhor para cada criatura, a qual não será passageira, constituindo-se numa efetiva conquista espiritual.

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*Este artigo foi publicado originalmente na edição 438 do jornal Correio Fraterno, de Março/Abril de 2011.

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