sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A química dos relacionamentos*

Como a vida social desperta atitudes melhores... ou não!
Telhados de BedZed, vila sustentável na Inglaterra.

Por Rita Foelker

A vida social tem uma razão de ser, assim como os relacionamentos humanos. Entre chefe e subordinado, pais e filhos, professor e aluno, entre irmãos, colegas, familiares, vizinhos, amigos, quer seja em duplas, trios ou grupos, encontraremos um propósito que atende à evolução de cada espírito neles envolvido.
Carl Gustav Jung (1875-1961) escreveu em A prática da psicoterapia (Vozes) que “o encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação”.
As reações “químicas” geradas são únicas. Tão únicas que não é difícil perceber que somos diferentes com pessoas diferentes. Algumas parecem despertar nosso melhor; outras acessam nosso pior. Perto de algumas, sentimo-nos afetivos, criativos, expansivos. Outras nos fazem sentir pouco inteligentes, retraídos e inadequados.
As relações humanas dependem do que cada participante conduz para dentro delas, proveniente de sua psicologia, ética, moral, sentimento, vontade, intelecto, intenções, interesses, vivências, expectativas, cultura, valores. Elas podem ser saudáveis ou doentias, agradáveis ou desagradáveis, sinceras ou enganosas, satisfatórias ou frustrantes, numa vasta gama de variações. Por isso é tão importante conviver, para aprendermos com essas diferenças.
O livro dos espíritos não deixa dúvida, na questão 766: “Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus deu-lhe a palavra e todas as demais faculdades necessárias ao relacionamento”. No entanto, o que conduzimos para cada espaço que adentramos? Qual consideramos ser a nossa parcela de contribuição para o meio onde nos encontramos? E o que assimilamos nesse convívio?

De ecovilas a casais

Quando uma comunidade se forma, soma-se mais que as características pessoais de cada integrante. Formam-se vínculos, baseados em normas de conduta, expectativas, objetivos. Isso é nítido ao se visitar diferentes culturas ou comunidades alternativas. Um exemplo interessante são as vilas sustentáveis, como BedZED (sigla que corresponde a Beddington Zero Energy Development, ou “Desenvolvimento com Energia Zero em Beddington”), em Hackbridge, e Container City II, em Trinity Buoy Wharf, ambos em Londres, Inglaterra. As pessoas escolhem morar nesses lugares porque desejam viver de um modo mais sustentável, e isso implica maneiras específicas de lidar com consumo, água, resíduos e energia. Então, se você vai morar lá, algumas de suas ações e hábitos certamente mudarão, ou você se sentirá inadaptado e terá de sair.
O site de Container City II contém um testemunho de uma moradora: “Nós amamos fazer parte de uma comunidade tão criativa – os clientes adoram a construção e achamos um lugar inspirador para trabalhar”.
Juntar pessoas sempre tem consequências para ambos e no meio onde vivem.
Quando um casal se forma, duas pessoas criam mais que a soma de suas características, pura e simples. Existe uma química nos relacionamentos entre casais, uma química única que resulta das interações de ambos. E não se trata do sentido comum desse termo, mais usado para referir-se à atração sexual.
A convivência e o compartilhamento de situações diversas no cotidiano, onde quer que se encontrem, modifica as pessoas.
Mas o Cristo já havia mencionado esta química dos relacionamentos, ao nos deixar a parábola do fermento. “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?” escreve Paulo em Coríntios I. Comentando esta passagem do Evangelho, Emmanuel em Fonte viva nos oferece definições oportunas. “O fermento é uma substância que excita outras substâncias, e nossa vida é sempre um fermento espiritual com que influenciamos as existências alheias.” Há referência do autor espiritual a três níveis dessa nossa influência:
Falas. “Nossas palavras determinam palavras em quem nos ouve, e, toda vez que não formos sinceros, é provável que o interlocutor seja igualmente desleal.”
Hábitos. “Nossos modos e costumes geram modos e costumes da mesma natureza, em torno de nossos passos...”
Atos. “Nossas atitudes e atos criam atitudes e atos do mesmo teor, em quantos nos rodeiam, porquanto aquilo que fazemos atinge o domínio da observação alheia, interferindo no centro de elaboração das forças mentais de nossos semelhantes.”
É natural que nossas falas, nossos hábitos e atos surjam da influência que recolhemos no meio onde convivemos, assim como influenciam outras pessoas.  Talvez só falte prestar um tanto mais de atenção ao que expressamos e, também, ao que trazemos do meio compartilhado para nossa vivência diária.

Para saber mais:
- BedZED – Liderando o caminho no desenho de Eco bairros. Site do Programa Cidades Sustentáveis. http://migre.me/fXDoI

- Container City II. Site da Container City (em inglês). http://migre.me/fXCcX

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* Texto publicado na revista Leitura Espírita, Edição 16.

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