sexta-feira, 4 de julho de 2014

Divagações entre o Belo e a Verdade II: Geometria Universal

A influência da geometria sobre o pensamento cosmológico é antiga

Por Rita Foelker 



Uma Teoria de Tudo é um sonho antigo na História da Ciência, cuja realização se afasta, quanto mais perto se chega dele. Hoje ela é só uma hipótese e vem se comportando como um horizonte à distância, convidando a atingi-lo, porém escapando pra mais longe a cada passo que se dá.

A dificuldade em atingir essa unificação está em colocar juntas as quatro forças reconhecidas no Universo: a gravidade, o eletromagnetismo, a eletrofraca e a eletroforte. (As duas últimas atuam no interior do átomo.)

Mas imaginar que existe algum jeito de conectar tudo e entender a dinâmica de todos os movimentos cósmicos já estava na mente do jovem Johannes Kepler (1571-1630), com seu "Mysterium Cosmographicum", que levava em conta as distâncias entre os planetas e usava os cinco sólidos de Platão para explicá-las. O próprio Platão (427-347 a.C.) na Antiguidade já havia associado esses poliedros à constituição do mundo, aos cinco elementos conhecidos: terra, água, fogo, ar e éter.

A tese de Kepler era uma nova tentativa de unir a estrutura do Universo às regras da geometria e essa ideia realmente entusiasmou o rapaz, pois lhe parecia um modo de penetrar a mente de Deus. O modelo era defensável, enquanto havia apenas seis planetas conhecidos e os cinco poliedros regulares se colocavam entre eles. Perdeu o sentido, porém, a partir da descoberta de Saturno e Netuno.

A influência da geometria sobre o pensamento cosmológico também fica nítida noutro momento da pesquisa de Kepler, na dificuldade em abandonar a noção de órbitas planetárias circulares (o círculo era considerado uma forma perfeita), para admitir as órbitas elípticas que conhecemos hoje.

A geometria fractal tornou possível sonhar novamente com essa beleza unificada do Universo.

Fractais são tipos de estruturas geométricas ou físicas divididas em partes semelhantes à original, mas nunca totalmente idênticas, cuja semelhança se reproduz em diferentes níveis de escala.

Visualmente, o objeto fractal apresenta um número indeterminado de formas reduzidas, semelhantes a ele próprio.

Em termos de Teoria de Tudo, como um fractal pode ser gerado a partir de uma função iterativa (linguagem de programação) que produz repetições sucessivas e alterações em tamanhos variados, isso faz pensar numa lei que cria o imensamente grande, como as galáxias, e vai se reproduzindo até o infinitamente pequeno, como o átomo etc.

Hoje já temos um pequeno ramo de pesquisa cosmológica que se chama Cosmologia Fractal, ainda tateando, intuindo uma solução, mas sem chegar a ela.

Mas a pergunta persiste: o que faremos da desarmonia que nos encontra os sentidos?

Talvez a solução seja humanamente inatingível. E ainda estejamos, como Humanidade, na idade de criar problemas e, não, de resolvê-los.

Isso nos leva à religião, o repositório das respostas sobre o que desejaríamos saber, mas que não vamos entender, se for muito complicado. A religião traz respostas que são ora ingênuas, ora incompletas, ora absurdas. Por isso ela faz gente inteligente duvidar de Deus e acaba sendo um tipo de fuga, uma ideia cheia de falhas que aceitamos como verdadeira para nos sentirmos mais seguros e confortados em meio à perplexidade e à luta cotidiana. (Não terminei com isso ainda.)

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